Os ensaios já traziam a carga emocional daquilo que vivenciaríamos no palco. Sob a direção de Rafael Ramos, que faz a produção musical de toda a obra da Pitty, foi desenvolvida a estrutura da música com a minha participação. Ficou muito legal. As dicas de Rafael foram bastante precisas e todas deram certo.
Não bastando estar com os amigos da banda tradicional (Pitty, Martin, Duda e Joe), ainda conheci o tecladista Bruno Cunha, que passa a excursionar como membro da trupe, e também o grande Hique Gomez, violinista/cantor/performer conhecido por todos por seu projeto Tangos & Tragédias, que já correu o Brasil levando humor e música, e ali também para fazer uma participação no DVD, na canção “Água Contida”.
Iria somente apresentar “Sob o Sol”, parceria minha com a Pitty, gravada nas sessões do álbum Chiaroscuro e que acaba de ser lançada no Lado B de um lindo compacto de vinil preto e branco, que também conta com o sucesso “Me Adora” no Lado A. Mas, lá mesmo, nos ensaios, foi sugerido que tocássemos, em regime de experiência, a música “Senhor das Moscas”, do Bogary. O resultado foi tão bacana que acabaram levando-a para o show também. Não acredito que faça parte do DVD, mas a reação de todos foi tão positiva que já valeu!
A viagem entre São Paulo (onde ensaiamos) e o Rio de Janeiro, onde rolaria o show, no histórico Circo Voador, foi feita de ônibus com boa parte da equipe a bordo. Apesar de toda camaradagem e bom papo que acabou fluindo e da alegria de todos em participar desse projeto, o trajeto não foi nada fácil: é que a saída de São Paulo é realmente movimentada (ainda mais num fim de tarde de sexta-feira) e um engarrafamento nos atrasou em mais de quatro horas. Resultado: só chegamos ao Rio na madrugada do dia do show, quando deveríamos estar lá ainda no começo da noite do dia anterior! Ok…
Ainda cedo, acordei e fui dar um giro pela vizinhança do hotel, que ficava no tradicional bairro da Glória. Já conhecia aquele trecho do Rio e aproveitei somente para caminhar, andar por entre a gente carioca, rever alguns lugares que acho bacanas: Largo do Machado, Catete, Jardim do Museu da República… Na volta, encontrei Duda disposto a um banho de mar antes de ir para o Circo Voador e começar os preparativos para a grande noite. Topei!
Fomos à praia do Leme, eu, Duda e Léo Leone. Demos um mergulho naquelas águas geladas, tão características das praias cariocas. Não demoramos muito: ainda havia muito o que fazer. Fiquei no hotel enquanto, aos grupos, quase todos foram dar sua contribuição à montagem do espetáculo e de toda a estrutura para sua captura em audiovisual. Uma equipe de cinegrafistas (dentre eles o amigo Rafael Kent, aqui de Salvador, além do grande Ricardo Spencer, diretor da empreitada) circulava a caminho do local do show/filmagem enquanto outros da equipe técnica preparavam o som, o cenário (desenvolvido pelo Renan, que já conhecia pela internet por ser fã da Pitty), camarim e tudo mais que envolve a produção de um show.
Acabei chegando ao Circo Voador por volta das 17h30 e tudo já estava praticamente pronto. Aguardei somente que o som fosse acertado e subi para ensaiar minha parte, agora, no palco, com tudo que aconteceria na hora do show. E como não poderia ser diferente, tudo deu muito certo… Aliás, parece que tudo que foi planejado correu como deveria. Isso deu mais confiança a todos e a satisfação estava muito evidente nos sorrisos e cumprimentos entre os envolvidos.
Encontrei com o amigo Fred (Supergalo, ex-Raimundos) que não via há um tempo, acho que desde que ele veio com a Supergalo tocar em Salvador, no Carnaval de 2008, a nosso convite, num trio. Além dele, outras figuras do Rio de Janeiro fizeram questão de levar seu abraço a Pitty e equipe pela realização desse DVD, dentre eles Marcelo D2: muito tranquilo e simpático. Muito legal perceber o carinho que todos têm com o trabalho de Pitty. Não somente com ela, que, por seu carisma, sempre cativa a todos, mas especialmente pelas coisas que ela fala e expõe em suas canções e em sua atitude, levando em uma nova argumentação uma série de temas à discussão por muita gente (jovem) que, sem essa iniciativa, estaria à margem de qualquer oportunidade de debate.
Pouco antes de subir ao palco, no camarim, fui convidado a fazer parte da “roda”: Pitty, Duda, Martin, Joe, Bruno, Hique, Rafael Ramos, eu… nenhuma palavra dita. Um “Hey!” pronunciado por ela e a magia estava feita! Subiram ao palco para uma sequência de canções que, segundo eles, eram “lados B”. Na verdade, as mais de 2 mil pessoas que lá estavam conheciam todas as músicas e participaram de cada uma delas com toda força, toda vontade, toda vibração. Bonito de ver.
Teve um outro momento significativo, ainda no começo, que ficou marcado: enquanto tocavam “Desconstruindo Amélia”, a banda via um monte de garotas, nos ombros de amigos(as), ficarem somente de sutiã! Algumas tentaram até ir além, mas não rolou…
A participação de Hique Gomez foi fantástica. Além de grande musicista, ele também é um cara ligado às performances teatrais e trouxe ao show um toque muito especial: sendo um tango, ele e Pitty acabaram arriscando uns passos durante a música “Água Contida”.
Depois da primeira metade da apresentação, chegou o momento da minha participação. Foi muito emocionante entrar no palco do Circo Voador (onde só havia pisado uma vez, num show com Cascadura e Cachorro Grande) e partilhar essa canção. A resposta da galera não poderia ter sido mais bacana: muito carinhosos, todos! Para a surpresa da assistência, ainda emendamos “Senhor das Moscas” que, aí para a minha surpresa, muitos conheciam.
Já na coxia, após o término, fomos convidados a repetir a performance a pedido de Ricardo Spencer, e Rafael foi muito enfático: “Olha, gente… Ficou ótimo! A performance e a interpretação estão prontas. Mas o pessoal da captura de vídeo (Spencer) pediu para repetir porque faltou filmar alguma coisa. Pode ser?” Não é algo que seja muito confortável… Pitty muito sensivelmente me perguntou se tudo bem pra mim e eu disse que “sim”… Lá vamos nós outra vez.
Eles voltaram como num bis, mandaram uma para reaquecer e então viria mais uma versão de “Sob o Sol”: Pitty canta a primeira estrofe, eu entro no refrão e… alguma coisa acontece no meu coração e nós dois erramos os nossos trechos da letra e essa nova tentativa ficou na tentativa mesmo… Pena! Fiquei pensando se aquilo comprometeria o resultado final.
Logo todos estavam confraternizando numa festa improvisada no camarim. Todos celebrando o êxito na realização desse projeto. Ao final, chamei Spencer e ele disse: “Cara a sua participação arrepiou! Ficou muito bom! As vozes de vocês dois… Blá, blá, blá…”. Aí, eu falei: “Legal, man… pena que não capturou direito, né? Foram poucas tomadas?”. Ele respondeu meio espantado: “Oxe… capturamos direito, sim! Filmamos tudo! Peguei todos os closes que imaginei…”. E eu: “Ô?! E por que você pediu para refazermos a minha parte?!”. Aí, ele arremessou: “Foi tão bonito que eu queria ver de novo!…”
Fonte.
Creditos: PittyEmSampa Campinas.
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