E agora? Como conseguir explicar todas as sensações que aconteceram num dos melhores shows da nossa vida? Estávamos incrivelmente excitados desde muito antes, e quando subimos no palco mal podíamos nos conter.
O Circo estava lindo de verdade. E nós estávamos livres, leves e soltos. Felicidade é isso. Antes do show, no camarim mesmo, demos uma bela modificada no set list; naquele dia poderíamos gastar absolutamente tudo porque não haveria amanhã. Mesmo sem ensaio, só contando com a memória, enfiamos no repertório Só de Passagem, No Escuro, Nós Vamos Invadir Sua Praia, Menudo, Faith No More e Seu Mestre Mandou, esta última a causadora de uma das rodas de pogo mais bonitas dos últimos tempos.
E na hora do vamos ver, em improváveis improvisos até Martin mandou um I Will Survive maluco, com direito a lambidinha no mamilo por parte de Joe. Ele diz que é mentira, mas vai saber. Ali, valia tudo e mais um pouco. Rolou Cachorro Grande também, e Creep. E outras coisas as quais não me recordo agora. E o que dizer do público que estava lá? Foram, sem demagogia, as estrelas da noite. Cheios de surpresinhas, confetes, balões, e um amor e respeito que não cabia na lona do Circo.
Cantaram com tanta alma que eu mal conseguia escutar a minha própria voz. Momento memorável: a banda começou a puxar Na Sua Estante, e eu estava fazendo um rabo de cavalo por causa do calor absurdo. Antes que eu pudesse chegar ao microfone e começar a cantar a música, eles o fizeram, sozinhos e muito alto. Aquilo virou um karaokê gigante e espontâneo, somente as vozes deles até a metade da música, quando eu finalmente me juntei e fomos até o final. Sabe o mais legal?
É não precisar ficar pagando de animadora de torcida e dizendo “vai gente! canta! mais alto! agora só vocês! grita!”, e todos aqueles artifícios que para mim são um tanto quanto constrangedores, como se você tivesse que ficar o tempo inteiro dizendo como as pessoas devem agir.
Não gosto de obedecer, talvez seja por isso também que não gosto de mandar. E confesso que tenho problemas com verbos no imperativo. Nessa noite, eu estava mais tagarela do que o normal. Geralmente sou mais taciturna e introspectiva, mas eles e Jack me deixaram tão a vontade que falei pelos cotovelos. E fiquei extremamente orgulhosa de ver que ainda é possível tocar e interagir com pessoas que entendem o espírito de um show de rock. Explico: em determinado momento, pessoas começaram a subir no palco. Pelas nossas infelizes experiências anteriores, nossos seguranças já calejados da estrada iam lá e nem os deixavam subir. Apontou na beirada, faz descer. Mas por algum motivo eu senti que aquela galera ali não tava a fim de subir no palco pra me agarrar, ou numas de fanatismo, ou qualquer dessas baboseiras. E aí falei pros seguranças deixarem a galera a vontade.
Minha intuição não me enganou, e uma sucessão de lindos moshs aconteceu. É simples, é rock, é isso. É a diferença entre quem vive e sabe o rock na sua essência e quem viu na tevê, achou bonitinho e desenvolve essa obsessão patológica por um pedaço do objeto em questão. Muito orgulho mesmo. Dessa forma, com respeito, foi possível dividir meu copo com uma menina que sentou no palco, cantar junto com um outro que subiu e pulou, receber uma lembrancinha em mãos. A proximidade acontece quando a gente dá espaço pra ela. Eu não queria que o show acabasse.
Mas depois de vinte e tantas músicas nós também já estávamos acabados, e uma hora tinha que terminar. Nunca fui tão feliz no palco, e uma lição: não quero me conformar com menos do que isso nunca mais. É assim que tem que ser.
Foi por isso que um dia eu quis ter uma banda de rock; pra ser livre pelo menos ali, por alguns instantes. Pra poder fazer e falar o que eu quiser, pra rir, pra chorar, pra não sentir vergonha nem culpa, pra poder estar séria, pra poder ficar louca, pra gritar, pra sussurrar, e pra encontrar pelo caminho os meus iguais.
O último show da turnê do {Des}Concerto Ao Vivo só me deixou com mais sede.
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